Somos uma Paróquia Franciscana Capuchinha

domingo, 5 de abril de 2009

NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES

História da Igreja Nossa Senhora das Necessidades
Povo Novo – Rio Grande




A Igreja do Povo Novo surge no período da invasão espanhola no Rio Grande de São Pedro (RS) entre 1763 e 1776, mais precisamente no ano de 1774 segundo relatos de antigos moradores do distrito, e sua primeira sede estava localizada no assentamento à margem da estrada da Palma, onde os Espanhóis colocaram os colonos portugueses que não conseguiram retirar-se após o domínio da coroa espanhola.


Nesse primeiro momento a Igreja, que não passara de uma rudimentar capelinha, surge como título de Nossa Sra das Mercês. Após a retomada das terras pelos portugueses a localidade de Torotama, que já existia anteriormente, recebeu a maior parte das famílias portuguesas, formando o Povo Novo nas terras pertencentes a Manoel Fernandes Vieira, aparecendo, então, com o nome de Pueblo Nuevo de la Toretama devido a recente influência espanhola. Alguns desses portugueses foram habitar um novo lugar duas léguas distantes e aí edificaram uma casa para nela celebrar missas e administrar sacramentos.


Por provisão de 07 de fevereiro de 1784 é criada a Capela Curato de Nossa Sra das Necessidades do Povo Novo, tendo como primeiro capelão o Padre Manoel dos Santos Rezende nomeado em 05 de dezembro de 1785. Construída em estilo Açoriano, ampla e alta para o tempo e o lugar, feita de tijolo cozido e ao que tudo indica revestida de cal, a igreja é ereta no ponto mais elevado do terreno em forma de cruz planta no chão, e conforme consta sua inauguração foi feita com missa cantada e Te Deum Laudamos, e festejos externos na praça com leilão de prendas e iluminação de tijelinhas. Em 1795, foi elevada a Curato dependente da Matriz de Rio Grande (a Igreja de São Pedro) e promovido cura o Padre José Monteiro. Quando se tornou independente ficou encarregado o Padre Manoel José Ferreira Guimarães, sucedendo-se a ele em vinte anos, dez curas.


No dia 23 de julho de 1803, batizou-se na Igreja Nossa Sra das Necessidades o menino Antônio de Souza Netto, filho de José de Souza e Teotônia Bruna, o qual anos depois engajou-se nas forças revolucionárias para lutar pela província, tornando-se um grande ícone da Revolução Farroupilha (1835-1845). Em 1804 poucos anos após a abertura da igreja, a ela voltavam o casal de negros africanos livres Manoel Ventura e Joana Dias, para render graças a Nossa Sra por lhes ter dado uma filha livre a qual foi batizada nesta mesma igreja com o nome de Polocena Maria Dias, sendo que com o passar do tempo perdeu o segundo prenome e começa a ser chamada de Pulcena Dias, que entra para a história como a Mãe de Marcílio Dias. Por lei da assembléia provincial de 05 de maio de 1846, Povo novo é elevado a Paróquia e o primeiro pároco nomeado foi em abril de 1847, o Padre Raimundo Tarrago.O pároco mais importante dessa época foi o Padre Estevão Semiglia nomeado em 27 de outubro de 1856 e confirmado em 1863 por Dom Sebastião Dias Laranjeira, o qual em junho do mesmo ano cria a Vara Eclesiástica do Povo Novo.


O padre Semiglia continua exercendo suas atividades paroquiais até que em 1869 é brutalmente assassinado na frente da igreja. Em 12 de dezembro de 1913, a capela deixa de ser paróquia sendo esta transferida pelo Bispo de Pelotas Dom Francisco de Campos Barreto, para a Igreja Nossa Sra da Penha no nascente distrito de Júlio de Castilhos, atual Vila da Quinta. Em 1922 os padres Josefinos que administravam uma Escola Agrícola do nascente distrito, e também atendiam a comunidade vão embora e em conseqüência disto as Igrejas da Penha e do Povo Novo ficam abandonadas, sendo que de vez em quando vinham Padres de Pelotas ou Rio Grande rezar missas e fazer batizados. Desde outros tempos já costumava-se celebrar a Festa do Divino Espírito Santo, uma tradição trazida pelos portugueses à região.


A grande e última Festa do Divino, realizada nos moldes tradicionais portugueses na Igreja do Povo Novo, ocorreu em 22 de março de 1942, tendo como Juizes Festeiros o Sr. Paulo Coutelle Filho e sua esposa Sra. Leontina Nunes Coutelle sendo nesta festa calculada a presença de mais de cinco mil pessoas. “Foi uma tarde de festa e apreensões, pois, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, os alemães afundaram três navios brasileiros, no entanto as festividades seguiram abrilhantadas por duas bandas, sendo uma delas a do 9° Regimento de Infantaria Motorizada de Pelotas. (Fato relatado pelo Sr. Alcides Rodrigues da Silva, morador do Povo Novo e sobrinho do Historiador Alfredo Ferreira Rodrigues, o qual foi o Pajem da festa tendo ele apenas treze anos de idade na época.)”.


Anos depois desgastada pelo tempo, a igreja precisava de uma reforma e segundo as Atas da Câmara Municipal, o telhado estava arriado, as imagens defeituosas e necessitava-se de cinco banquetas completas para os cinco altares, e também consta que os seis contos de réis decretados pela Assembléia Provincial ainda não haviam chegado. Segundo relatos, em maio de 1945 a Igreja foi fechada após a Missa de Ação de Graças pela vitória das Nações unidas, pois oferecia riscos de desabamento. Os parlamentos da igreja, bem como as imagens, foram recolhidas e guardadas na residência do Sr. Ladislau Lawal. Em 19 de fevereiro de 1948 uma grande campanha de donativos para a reconstrução da igreja, ganha os municípios de Pelotas e Rio Grande, estando à frente desta o Dr. Miguel de Castro Moreira - presidente, Sr. Paulo Coutelle Filho – tesoureiro e o Sr. Baudílio Azevedo – secretário, os quais faziam parte da comissão de reforma da igreja. As obras de demolição lateral iniciaram em 08 de novembro de 1948, conservando a fachada original e obedecendo ao mesmo estilo e tipificação arquitetônicos.


A reconstrução levou dezessete meses e vinte dias para ser concluída, até que no dia 28 de abril de 1950 às 16 horas a obra foi entregue pelo construtor Sr. Oscar Rodrigues de Carvalho, que vem a falecer meses após o término da reforma. “Voltam a soar os sinos no Povo Novo! Sobe as escadas do campanário o Sr. mais idoso, Manoel de Oliveira, para tocar a Ave Maria.” (Fato contado pelo Sr. Alcides Rodrigues da Silva, o qual, estava presente no ato da entrega da obra.)


“Lá esta no alto da fachada de nosso Templo aquele significativo losângulo 1784-1950. Duas épocas, duas grandes batalhas. Tudo levando à posteridade a luta pela conservação do nosso mais caro monumento histórico o teto sob o qual humildes trabalhadores dos campos vão levar suas preces ou cantar seus hinos de louvor pelas bênçãos recebidas do céu”. (Trecho do relatório de conclusão da obra, feito pelo secretário da comissão Sr. Baudílio Azevedo). Durante e após a reforma muitas doações foram feitas como vasos, toalhas, castiçais, e imagens as quais receberam a bênção em 25 de fevereiro de 1951 por ocasião dos atos inaugurais do novo templo, cujas solenidades foram celebradas por Dom Antônio Zattera, Bispo de Pelotas. Em março de 1961 realizou-se uma das maiores festas em louvor a Nossa Sra das Necessidades, sendo festeiros os Srs. Domingos Cerciário e Bento Ernesto Gonçalves, juntamente com suas esposas, os quais organizaram a programação da festa que contou com a Missa pela manhã, procissão às 14 horas fazendo o trajeto da igreja à estação (época em que todas as imagens eram conduzidas na procissão) tendo o acompanhamento da Banda União Democrática de Pelotas.


A tarde o Sr. Bispo Dom Antônio Zattera ministrou a um grupo de crianças o sacramento do Crisma e ainda ouve festa na praça. Em julho de 1962 a então Paróquia da vila da Quinta passou a ter um pároco, Padre Lauro Perch o qual trabalhou na região até 1969, quando assumiu o padre italiano João Batista Cossali, o qual tornou-se um grande ícone desta região por ter chegado numa época em que a igreja encontrava-se desanimada. Com seu espírito decidido e inovador, conseguiu retomar a caminhada das comunidades trabalhando até 1981, quando a paróquia foi assumida pelos Freis Franciscanos Capuchinhos, sendo o primeiro Pároco Franciscano o Frei Antônio Parisotto. Nesta mesma época (não sendo encontrados registros do fato) ocorreu um furto na igreja onde foram roubadas duas imagens históricas: Nossa Sra do Rosário e São Miguel Arcanjo, além de outros artigos como toalhas, castiçais, uma caixa de som e uma coroa da padroeira, artigos os quais não conseguiram ser recuperados, sendo que, inclusive, a imagem de Nossa Sra do Rosário era conduzida tradicionalmente todos os anos em procissão por um casal de festeiros Negros os quais realizavam uma festa em homenagem a santa padroeira dos negros e escravos.


Os duzentos anos da igreja Nossa sra das Necessidades foram celebrados no ano de 1984 junto a festa da Padroeira.Neste dia todos aqueles casais que haviam sido festeiros nas festas anteriores, o foram novamente. Pela manhã ouve missa solene, à tarde procissão e festa na praça. Foi realizada em julho de 2000 a Primeira Festa de São Cristóvão, em homenagem ao motorista e o agricultor. Pela manhã foi celebrada pelo Sr. Bispo Dom José Mário Stroeher a Missa Jubilar e ministrado a um grupo de jovens e adultos o sacramento do Crisma. À tarde houve procissão motorizada e domingueira. No dia 20 de julho de 2003, Povo Novo comemorou o Bicentenário do batizado de seu ilustre filho o General Antônio de Souza Netto que foi batizado na Pia esculpida em pedra bruta ainda presente nesta igreja servindo de elo entre o passado e o presente.


As comemorações iniciaram às 09 h e 45 min com uma aula pública de sua vida e inauguração do cartaz didático em sua homenagem na Coordenadoria Distrital, em seguida foi descerrada uma placa no busto do herói pelo Prefeito Municipal Sr. Fábio Branco e demais autoridades, juntamente com o CTG Antônio de Souza Netto, CTG Saudades do Pago, Piquete Potro sem Dono e a comunidade em geral. Às 10 h e 30 min foi realizada a Missa Crioula na praça, presidida pelo Padre Décio de Rio Grande com o auxílio da comunidade local. A tarde ouve mateada e o encerramento deu-se por volta das 20h.
A história de nossa bicentenária Igreja que é um marco na caminhada de fé do nosso povo continua a ser construída a cada dia e a cada celebração que é realizada sob seu teto, e também é uma prova de que com a intercessão da Mãe de Jesus superamos todas as dificuldades da caminhada e recebemos as bênçãos de Deus Pai.


Este texto foi construído com base em um trabalho realizado de 2003 a 2007, que contou com pesquisas, entrevistas com historiadores e antigos moradores da comunidade, recuperação de fotos, arquivos e documentos antigos, tudo com o proposto de resgatar e documentar a história de nossa igreja.
Povo Novo, Novembro de 2007.




Fontes utilizadas para a construção do trabalho:
- Síntese do trabalho “Origens do Povo Novo” por Cledenir Mendonça, bacharel em História da Furg;
- Livro Marcílio Dias, por Edgar Fontoura;
- Arquivo da Igreja Nossa Sra das Necessidades;
- Arquivo pessoal do Sr. Alcides Rodrigues da Silva;
- Arquivo pessoal da Sra. Ivanilda de Barros Marco;
- Colaboração dos Freis Júlio César Ribeiro, Carlos Freitas e Paulo Zanatta.

Responsáveis pela pesquisa:
Denise de Souza Martins
Diego Noda dos Santos

Montagem final do texto:
Diego Noda dos Santos (Email diegonoda@hotmail.com)