Monsenhor dr, Luis Mariano da Rocha, em trabalho “A Religião Católica no Estado” teve ocasião de referir;
“ A data, porém de 1812, que assinala a criação da vigararia geral, como adiante veremos, é bem precisa e pode servir perfeitamente de ponto de partida para a história da Igreja Católica no Rio Grande do Sul durante o primeiro século de vida independente da nação.”
“Efetivamente, vamos, nessa data, as freguesias donde se irradiavam as populações pelo território, todas elas constituídas.”
“Porto Alegre, Viamão, Triunfo, Taquari, Santo Amaro, Cachoeira, Rio Pardo e Rio Grande, quase a esteira do litoral em que se amalgamou a população para a conquista do território, ainda hoje apresentam as suas velhas igrejas ou “matrizes” que, iniludivelmente, são marcos gloriosos e nos dizem dos altos sentimentos religiosos, morais e artísticos de nossos antepassados.”
“ Os bispos, pois, do Rio de Janeiro criavam paróquias, dividiam o território, atendiam ao espiritual pela nomeação de vigários, permitiam a pregação de missões populares por sacerdotes das ordens religiosas do Carmo, dos Franciscanos Capuchinhos e inspecionavam a cristandade dos visitadores ordinários e extraordinários ou gerais nomeados periodicamente, quase sempre trienalmente.”
“O continente do Rio Grande estava ainda dividido em 5 Municípios e 14 paróquias, a saber:
I – Rio Grande
Paróquia do Rio Grande – fundada em 1745.
Paróquia do Estreito - Fundada em 1750.
Paróquia de Mostarda - Fundada em 1773.
II – Porto Alegre
Paróquia de Porto Alegre – fundada em 1772.
Paróquia de Viamão – fundada em 1747.
Paróquia de Triunfo – fundada em 1756.
Paróquia de Gravataí – fundada em 1795.
III – Santo Antônio da Patrulha
Paróquia S. Antônio – fundada em 1795.
Paróquia de Conceição do Arroio – fundada em 1773.
Paróquia de Vacaria – fundada em 1805.
IV – Rio Pardo
Paróquia de Rio Pardo – fundada em 1779.
Paróquia de Santo Amaro – fundada em 1773.
Paróquia de Taquari - fundada em 1765
V – Cachoeira
Paróquia de Cachoeira – fundada em 1779.”
Monsenhor Mariano de Rocha, saliente figura do clero gaúcho, teve seu trabalho, anos mais tarde secundado pelo brilhante homem de letras e historiador de grande recursos: professor Walter Spalding.
“ Igreja no Velho Continente de São Pedro do Sul” é o trabalho de Spalding que temos a satisfação de ora transcrever (quase todo):
“O Rio Grande do S. Pedro do Sul foi, das Províncias do Brasil, a mais abandonada e que por últimos, quase dois século mais tarde, recebeu os primeiros civilizados portugueses.”
“ Com respeito ao abandono em que a deixaram as Cortes, inúmeros sãos os documentos que o provam, mormente alguns anos após a fundação do presídio Jesus, Maria, José, por Silva País.”
“ A própria revolução farroupilha, em 1835, foi, em grande parte, conseqüência do desleixo do centro pelo continente de S. Pedro.”
“Si materialmente pouco cuidaram do Rio Grande, espiritualmente o desastre era completo.”
“ Descoberto em 1509 por João Dias de Solis, navegante português a serviço da Espanha, o Rio Grande apesar disso, continuou a ser terra de ninguém, isto é: de civilizados, pois foi até princípios de século XVIII propriedade exclusiva de seus naturais, os charruas e minuanos...
Bibliografia
FREITAS L. José. NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL. TRIUNFO 1754. 1º VOLUME
OB: Apenas tenho o xérox dessas duas folhas a capa e a pág 70 e 71 onde encontrei a riqueza dessas observações que transcrevi como está escrita. Frei Paulo Zanatta
ESTÂNCIA DE JOSÉ CORREIA, 5 léguas, 22 de setembro. – Ainda dois matesantes de partir. O uso dessa bebida é geral aqui: toma-se mate noinstante em que se acorda e depois, várias vezes durante o dia. Achaleira cheia de água quente ao fogo e, logo que um estranho entre nacasa, oferecem-lhe mate imediatamente. O nome de mate épropriamente o nome da pequena cuia onde é servido, mas dá-se tambémà bebida ou à quantidade de liquido contido na cabaça; assim diz-seque se tomaram dois ou três mates, quando se tem esvaziado a cuia duasou três vezes. Quando à planta que fornece essa bebida, chamam-se erva-mateou simplesmente erva. A cuia pode conter cerca de um copo d’água; deerva até a metade e, por cima, põe a água quente. Quando a erva é deboa qualidade, pode-se escaldá-la até dez ou doze vezes, sem renovar aerva. Conhece-se que esta perdeu sua força e que é necessário mudá-laquando, derramando-se-lhe água fervente, não se forma espuma àsuperfície. Os verdadeiros apreciadores do mate tomam-no sem açúcar, eentão se obtém o chamado mate-chimarrão. A primeira vez que provei talbebida, achei-a muito sem graça, mas cedo me acostumei a ela e,atualmente, tomo várias mates seguidamente com prazer, até mesmo semaçúcar. Acho no mate um ligeiro perfume misturado de amargor, que nãoé desagradável. Muito se tem elogiado esta bebida; dizem que é diurética, combatedores de cabeça, descansa o viajor de suas fadigas; e na realidade, éprovável que seu sabor amargo a torne estomacal é, por isso, sejatalvez necessária numa região onde se come enorme quantidade de carne,sem mastiga-la convenientemente. Aqueles que estão ao acostumados aomate, não podem privar-se dele, sem sofrerem incômodos. Num espaço de cerca de duas léguas após a Estância do Velho Terras até Capilha, o terreno é absolutamente semelhante ao queatravessei nos dias precedentes; é também, plano e coberto dum relvado
muito raso, onde florecem, ainda,as mesmas plantas que indiquei no Diário de 20. No caminho, encontreium homem que mora a trinta légua daqui, e que voltava para casa, emcompanhia da mulher. Todos, nesta região, são exímioscavaleiros, razão por que fazem longas viagens a cavalo. Conversandocom o homem de que acabo de falar, soube que em São Miguel, em SantaTereza e seus arredores, havia um grande número de estancieirocompletamente jejunos em religião; que muita gente jamais se confessou, e atése encontra mesmo quem, na idade de quinze ou dezesseis anos, jamaisassistiram missa; o que não é muito de admirar, pois que, entre afronteira e Rio Grande, somente se reza missa em Capilha, onde passeihoje. Capilha é simplesmente uma aldeia, composta de algumas choupanas e deuma pequeníssima capela subordinada à paróquia do Rio Grande,mas sem capelão.Essa aldeia está situada numa posição muito agradável, às margens da Lagoa Mirim. Silveiro disse-me que sua casa ficava a cinco léguas do lago e a cinco do mar. Abaixo do Caiová, o istmo começa a se estreitar. Meus hospedeiros de ontem à tarde asseguraram-me que sua habitação ficava somente a duas léguas do lago, e a três do oceano; em Capilha, não há mais que duas léguas entre o lago e o mar. De Capilha até aqui, num espaço de três léguas viemos sempre contornando o lago, caminhando por uma praia triste e monótona, coberta de areia fina e esbranquiçada.
Para além da praia, as areias amontoadas pelos ventos formaram uma fileira ininterrupta de montículos, sobre os quais crescem algumas árvores raquíticas, tais como a mirsínea, a figueira, o coentro. Por trás dos montículos, o terreno continua plano e coberto de pastagens.
A uma légua de Capilha, encontra-se o lugar chamado Taim, onde estão acampados alguns soldados. Outrora, Taim era o limite das divisões portuguesas. Do outro lado, os campos neutros (campos neutriais), que se estendiam numa extensão de trinta léguas, até a Estância do Chui, onde começava as possessões espanholas. Se é verdade o que me disseram, os campos neutrais foram, originariamente, povoados pelos portugueses, que, por força de um tratado, se viram obrigados a abandonar suas possessões. Homens pobres, vendo uma tão grande área de terra sem proprietários, sonharam aí se estabelecer, solicitando, para isso, a posse delas aos comandantes portugueses da fronteira. Esses, para não se comprometerem, recusaram-lhes autorização direta, mas se prontificaram a fechar os olhos a essa violação do tratado, e recomendaram aos agricultores procurarem entendimento com os comandantes espanhóis, que por dinheiro, consentiram tudo. Assim foram os campos neutrais povoados pela segunda vez, pelos portugueses. Mas hoje, que essas terras são consideradas como parte do domínio português, os primeiros donos se apresentam com títulos legítimos, concedidos pelo Rei, e pretendem reaver suas terras, pois os últimos ocupantes ali se estabeleceram fraudulentamente, burlando assim o tratado.
Parece que as autoridades estão dispostas a decidir em favor dos mais antigos donos.
Pernoitei numa estância, cujo proprietário estava ausente, e onde só encontrei um negro. Esse homem alimenta-se apenas de carne, sem farinha e sem pão, como sucede a todos os escravos nesta região.
BIBLIOGRAFIA
SAINT-HILAIRE Augusto de. VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL. 4º Edição. Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. Ed. Marins Livreiro. Porto Alegre. 1987
NT: Auguste de Saint-Hilaire nasceu na França em Orléans 1779. Chegou no Brasil em 1816, e aqui permaneceu durante 6 anos. Pisou o solo rio-grandense pela 1º em Torres, a 5 de junho de 1820. Faleceu na França em 1853, onde havia publicado na França , todos os relatos das suas viagens pelo Brasil, com exceção; o da viagem que empreendeu em nossa província.
Cachorro Ovelheiro
...O Tenente Vieira possui um rebanho de ovelhas que, como os demais da região, permanece sempre nos campos, mas é guardado por um desses cães, chamado ovelheiro, de que fala o abade Casal.
Eis o que me contou o tenente sobre esses animais. Toma-se um cachorrinho , antes que tenha aberto os olhos, separa-se da mãe, obriga-se uma ovelha a amamenta-lo, e constrói-se-lhe uma pequeno abrigo no meio do rebanho. Os primeiros seres vivos que se oferecem à sua vista são os carneiros; o cachorro acostuma-se a eles, toma-lhe afeição e erige-se em seu defensor, repelindo com valentia os cães selvagens e outros animais que os vêm atacar. Habitua-se a vir comer pela manhã e à tarde na estância; além disso, nunca mais abandona o rebanho e, quando as ovelhas se afastam da casa, priva-se até de alimentos para acompanhá-las.
SAINT-HILAIRE Augusto de. VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL. 4º Edição. Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. Ed. Marins Livreiro. Porto Alegre. 1987
NT: Auguste de Saint-Hilaire nasceu na França em Orléans 1779. Chegou no Brasil em 1816, e aqui permaneceu durante 6 anos. Pisou o solo rio-grandense pela 1º em Torres, a 5 de junho de 1820. Faleceu na França em 1853, onde havia publicado na França , todos os relatos das suas viagens pelo Brasil, com exceção; o da viagem que empreendeu em nossa província.
“ A data, porém de 1812, que assinala a criação da vigararia geral, como adiante veremos, é bem precisa e pode servir perfeitamente de ponto de partida para a história da Igreja Católica no Rio Grande do Sul durante o primeiro século de vida independente da nação.”
“Efetivamente, vamos, nessa data, as freguesias donde se irradiavam as populações pelo território, todas elas constituídas.”
“Porto Alegre, Viamão, Triunfo, Taquari, Santo Amaro, Cachoeira, Rio Pardo e Rio Grande, quase a esteira do litoral em que se amalgamou a população para a conquista do território, ainda hoje apresentam as suas velhas igrejas ou “matrizes” que, iniludivelmente, são marcos gloriosos e nos dizem dos altos sentimentos religiosos, morais e artísticos de nossos antepassados.”
“ Os bispos, pois, do Rio de Janeiro criavam paróquias, dividiam o território, atendiam ao espiritual pela nomeação de vigários, permitiam a pregação de missões populares por sacerdotes das ordens religiosas do Carmo, dos Franciscanos Capuchinhos e inspecionavam a cristandade dos visitadores ordinários e extraordinários ou gerais nomeados periodicamente, quase sempre trienalmente.”
“O continente do Rio Grande estava ainda dividido em 5 Municípios e 14 paróquias, a saber:
I – Rio Grande
Paróquia do Rio Grande – fundada em 1745.
Paróquia do Estreito - Fundada em 1750.
Paróquia de Mostarda - Fundada em 1773.
II – Porto Alegre
Paróquia de Porto Alegre – fundada em 1772.
Paróquia de Viamão – fundada em 1747.
Paróquia de Triunfo – fundada em 1756.
Paróquia de Gravataí – fundada em 1795.
III – Santo Antônio da Patrulha
Paróquia S. Antônio – fundada em 1795.
Paróquia de Conceição do Arroio – fundada em 1773.
Paróquia de Vacaria – fundada em 1805.
IV – Rio Pardo
Paróquia de Rio Pardo – fundada em 1779.
Paróquia de Santo Amaro – fundada em 1773.
Paróquia de Taquari - fundada em 1765
V – Cachoeira
Paróquia de Cachoeira – fundada em 1779.”
Monsenhor Mariano de Rocha, saliente figura do clero gaúcho, teve seu trabalho, anos mais tarde secundado pelo brilhante homem de letras e historiador de grande recursos: professor Walter Spalding.
“ Igreja no Velho Continente de São Pedro do Sul” é o trabalho de Spalding que temos a satisfação de ora transcrever (quase todo):
“O Rio Grande do S. Pedro do Sul foi, das Províncias do Brasil, a mais abandonada e que por últimos, quase dois século mais tarde, recebeu os primeiros civilizados portugueses.”
“ Com respeito ao abandono em que a deixaram as Cortes, inúmeros sãos os documentos que o provam, mormente alguns anos após a fundação do presídio Jesus, Maria, José, por Silva País.”
“ A própria revolução farroupilha, em 1835, foi, em grande parte, conseqüência do desleixo do centro pelo continente de S. Pedro.”
“Si materialmente pouco cuidaram do Rio Grande, espiritualmente o desastre era completo.”
“ Descoberto em 1509 por João Dias de Solis, navegante português a serviço da Espanha, o Rio Grande apesar disso, continuou a ser terra de ninguém, isto é: de civilizados, pois foi até princípios de século XVIII propriedade exclusiva de seus naturais, os charruas e minuanos...
Bibliografia
FREITAS L. José. NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL. TRIUNFO 1754. 1º VOLUME
OB: Apenas tenho o xérox dessas duas folhas a capa e a pág 70 e 71 onde encontrei a riqueza dessas observações que transcrevi como está escrita. Frei Paulo Zanatta
ESTÂNCIA DE JOSÉ CORREIA, 5 léguas, 22 de setembro. – Ainda dois matesantes de partir. O uso dessa bebida é geral aqui: toma-se mate noinstante em que se acorda e depois, várias vezes durante o dia. Achaleira cheia de água quente ao fogo e, logo que um estranho entre nacasa, oferecem-lhe mate imediatamente. O nome de mate épropriamente o nome da pequena cuia onde é servido, mas dá-se tambémà bebida ou à quantidade de liquido contido na cabaça; assim diz-seque se tomaram dois ou três mates, quando se tem esvaziado a cuia duasou três vezes. Quando à planta que fornece essa bebida, chamam-se erva-mateou simplesmente erva. A cuia pode conter cerca de um copo d’água; deerva até a metade e, por cima, põe a água quente. Quando a erva é deboa qualidade, pode-se escaldá-la até dez ou doze vezes, sem renovar aerva. Conhece-se que esta perdeu sua força e que é necessário mudá-laquando, derramando-se-lhe água fervente, não se forma espuma àsuperfície. Os verdadeiros apreciadores do mate tomam-no sem açúcar, eentão se obtém o chamado mate-chimarrão. A primeira vez que provei talbebida, achei-a muito sem graça, mas cedo me acostumei a ela e,atualmente, tomo várias mates seguidamente com prazer, até mesmo semaçúcar. Acho no mate um ligeiro perfume misturado de amargor, que nãoé desagradável. Muito se tem elogiado esta bebida; dizem que é diurética, combatedores de cabeça, descansa o viajor de suas fadigas; e na realidade, éprovável que seu sabor amargo a torne estomacal é, por isso, sejatalvez necessária numa região onde se come enorme quantidade de carne,sem mastiga-la convenientemente. Aqueles que estão ao acostumados aomate, não podem privar-se dele, sem sofrerem incômodos. Num espaço de cerca de duas léguas após a Estância do Velho Terras até Capilha, o terreno é absolutamente semelhante ao queatravessei nos dias precedentes; é também, plano e coberto dum relvado
muito raso, onde florecem, ainda,as mesmas plantas que indiquei no Diário de 20. No caminho, encontreium homem que mora a trinta légua daqui, e que voltava para casa, emcompanhia da mulher. Todos, nesta região, são exímioscavaleiros, razão por que fazem longas viagens a cavalo. Conversandocom o homem de que acabo de falar, soube que em São Miguel, em SantaTereza e seus arredores, havia um grande número de estancieirocompletamente jejunos em religião; que muita gente jamais se confessou, e atése encontra mesmo quem, na idade de quinze ou dezesseis anos, jamaisassistiram missa; o que não é muito de admirar, pois que, entre afronteira e Rio Grande, somente se reza missa em Capilha, onde passeihoje. Capilha é simplesmente uma aldeia, composta de algumas choupanas e deuma pequeníssima capela subordinada à paróquia do Rio Grande,mas sem capelão.Essa aldeia está situada numa posição muito agradável, às margens da Lagoa Mirim. Silveiro disse-me que sua casa ficava a cinco léguas do lago e a cinco do mar. Abaixo do Caiová, o istmo começa a se estreitar. Meus hospedeiros de ontem à tarde asseguraram-me que sua habitação ficava somente a duas léguas do lago, e a três do oceano; em Capilha, não há mais que duas léguas entre o lago e o mar. De Capilha até aqui, num espaço de três léguas viemos sempre contornando o lago, caminhando por uma praia triste e monótona, coberta de areia fina e esbranquiçada.
Para além da praia, as areias amontoadas pelos ventos formaram uma fileira ininterrupta de montículos, sobre os quais crescem algumas árvores raquíticas, tais como a mirsínea, a figueira, o coentro. Por trás dos montículos, o terreno continua plano e coberto de pastagens.
A uma légua de Capilha, encontra-se o lugar chamado Taim, onde estão acampados alguns soldados. Outrora, Taim era o limite das divisões portuguesas. Do outro lado, os campos neutros (campos neutriais), que se estendiam numa extensão de trinta léguas, até a Estância do Chui, onde começava as possessões espanholas. Se é verdade o que me disseram, os campos neutrais foram, originariamente, povoados pelos portugueses, que, por força de um tratado, se viram obrigados a abandonar suas possessões. Homens pobres, vendo uma tão grande área de terra sem proprietários, sonharam aí se estabelecer, solicitando, para isso, a posse delas aos comandantes portugueses da fronteira. Esses, para não se comprometerem, recusaram-lhes autorização direta, mas se prontificaram a fechar os olhos a essa violação do tratado, e recomendaram aos agricultores procurarem entendimento com os comandantes espanhóis, que por dinheiro, consentiram tudo. Assim foram os campos neutrais povoados pela segunda vez, pelos portugueses. Mas hoje, que essas terras são consideradas como parte do domínio português, os primeiros donos se apresentam com títulos legítimos, concedidos pelo Rei, e pretendem reaver suas terras, pois os últimos ocupantes ali se estabeleceram fraudulentamente, burlando assim o tratado.
Parece que as autoridades estão dispostas a decidir em favor dos mais antigos donos.
Pernoitei numa estância, cujo proprietário estava ausente, e onde só encontrei um negro. Esse homem alimenta-se apenas de carne, sem farinha e sem pão, como sucede a todos os escravos nesta região.
BIBLIOGRAFIA
SAINT-HILAIRE Augusto de. VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL. 4º Edição. Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. Ed. Marins Livreiro. Porto Alegre. 1987
NT: Auguste de Saint-Hilaire nasceu na França em Orléans 1779. Chegou no Brasil em 1816, e aqui permaneceu durante 6 anos. Pisou o solo rio-grandense pela 1º em Torres, a 5 de junho de 1820. Faleceu na França em 1853, onde havia publicado na França , todos os relatos das suas viagens pelo Brasil, com exceção; o da viagem que empreendeu em nossa província.
Cachorro Ovelheiro
...O Tenente Vieira possui um rebanho de ovelhas que, como os demais da região, permanece sempre nos campos, mas é guardado por um desses cães, chamado ovelheiro, de que fala o abade Casal.
Eis o que me contou o tenente sobre esses animais. Toma-se um cachorrinho , antes que tenha aberto os olhos, separa-se da mãe, obriga-se uma ovelha a amamenta-lo, e constrói-se-lhe uma pequeno abrigo no meio do rebanho. Os primeiros seres vivos que se oferecem à sua vista são os carneiros; o cachorro acostuma-se a eles, toma-lhe afeição e erige-se em seu defensor, repelindo com valentia os cães selvagens e outros animais que os vêm atacar. Habitua-se a vir comer pela manhã e à tarde na estância; além disso, nunca mais abandona o rebanho e, quando as ovelhas se afastam da casa, priva-se até de alimentos para acompanhá-las.
SAINT-HILAIRE Augusto de. VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL. 4º Edição. Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. Ed. Marins Livreiro. Porto Alegre. 1987
NT: Auguste de Saint-Hilaire nasceu na França em Orléans 1779. Chegou no Brasil em 1816, e aqui permaneceu durante 6 anos. Pisou o solo rio-grandense pela 1º em Torres, a 5 de junho de 1820. Faleceu na França em 1853, onde havia publicado na França , todos os relatos das suas viagens pelo Brasil, com exceção; o da viagem que empreendeu em nossa província.